THEOBALDO COSTA JAMUNDÁ
Teobaldo Costa Jamundá[nota 1- grafia antiga Theobaldo]
(Recife, Pernambuco, 10 de março de 1914 — Blumenau, Santa Catarina, 4 de junho de 2004)
foi um jornalista, poeta e folclorista brasileiro.
Filho de Tiburtino Batista da Costa e de Luísa Jamundá Costa.
JAMUNDÁ, Theobaldo Costa. Aleluia da desculpa Florianópolis: Edições SANFONA, 1989 [folha dobrada em quatro páginas] São 14 folhetos em uma caixa de plástico) Tiragem 200 exemplares.
Ex. bibl. Antonio Miranda
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Enciclopédico Beberibe das descobertas,
deserção do mundo fraternal dos meninos
ingresso no laboratório do Homem
requerente descontente
na limitação da calça curta:
o guiaiamum mais azul era o homem quem pegava,
a pitanga mais vermelha era o homem quem colhia,
a bicicleta mais bonita era o homem quem pedalava,
a pandorga mais alteada era o homem quem empinava,
o bote mais colorido era o homem quem remava,
a moça mais bonita era com quem o homem casava,
a coisa mais certa era o homem que sabia.
Essência mais pura fertilizou vontade,
incumbiu-se rasgador da folhinha
sentindo também ir o menino
com a data passada para ontem,
assumiu o direito da calça comprida
o nariz roteirado para o dia 31 de fevereiro.
(Ninguém lhe falou da pressa inútil)
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Foi isto (faz tempo) digo lembrado,
era diversão girar a vida no carrossel do circo,
(ninguém disse ser a vida girada em si mesmo)
proa na ida lição do pai Tiburtino:
o caráter cristão é preciso!
(ou se fica primário calça curta
mesmo com barba e bigodes na cara
e a voz máscula na fala)
vividas agora setenta quintas-feiras santas,
consuetudinário o barro e a forma da fôrma,
(a libélula dourada além da mão estendida)
consumidos setenta sábados de aleluia,
para suicídio por afogamento
bastaria amontoamento das folhinhas rasgadas,
pensa ir para frente
E não sai do assoletramento necessário
na equação da quadratura do círculo.
(A libélula dourada além da mão estendida,
muito distante, com os fantasmas embaixo do pé de
manga-rosa)
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Bípede e plástico no colete dos cinquenta
(sem legenda fotografia amarelada) andou para ontem
nas marcas do pernambucar menino,
de lá na invocação, que a palma do domingo de ramos
tem mais que clorofila,
se bem que notou-se bovino melancólico
olhar mugido no Camaçary lembrança com imagem,
sem som a lágrima no curral
procura vestígio da vida diluída paisagem,
onde o esqueleto do catavento é sensível à brisa,
bracejante o gesto-espinho move o cinema da queixa:
inútil retorno demorado. Ardente a vergonha
tira o sangue da face,
cáustica a gargalhada dos nervos,
gaguejante a desculpa assoletrada,
proprietário de setenta dez de março,
o mesmo Coisa alguma ou seja
o Nenhuma coisa, sem o guaiamum azul,
sem a libélula dourada,
identificado migrante circunscrito na dúvida
se calados todos os sinos da amada Recife
(aparentados sinos pastoreiros)
só tem a fantasia de liberto (e isto é tudo)
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VENTOS DO SUL. Revista do Grupo de Poetas Livres. Ano VI – no. 23. Julho – Dezembro, 2004. Florianópolis, SC: 2004. Ex. bibl. Antonio Miranda.
OLHAR LADRA NA SAUDADE
O olhar dos meus cachorros, falante da
lealdade que me deram, estão
onde estiveram: nos pés da cama,
nos quatro cantos da casa, no sótão da memória,
de todos, os dois mais perto são aqueles das
fuga da Baía-norte. Todos no retrato anima
um tempo que fomos de dona Ruth como os tinhorões
e as orquídeas, família num feixe de Felicidade.
O olhar dos meus cachorros
ladra no íntimo da saudade
e acuada a dor dói menos. Meus cachorros
no sol da eternidade, cabeças sobre as patas
olham dentro dos meus olhos que fomos
do teatro de dona Ruth, personagens lambidas
pelo ar salgado da Baía-norte, ali
numa esquina da ilha de Santa Catarina.
Página ampliada em abril de 2022
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Página publicada em outubro de 2021
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